domingo, 10 de setembro de 2023

CÃES - A história da Nega: fome, briga de cachorro, amputação

Hoje, vim contar a história da Nega, uma cachorrinha que se parece uma raposinha, a mais carinhosa do mundo!

Nega é uma cachorrinha de meia idade.

Conheci-a quando ela era de uma família, tinha sido abandonada por outras pessoas e por lá ficou.

Vivia passando fome, amarrada em uma corda.

Levava ração dos meus cães para ela, ela disputava com as galinhas (também, famintas) os grãos de ração.

Uma época, tinha bicho-de-pé no focinho. Deveria ter outros, mas 3 grandes no nariz. Levei remédio e tirei os bichos que consegui. Apesar da dor (tirar bicho-de-pé dói, pois eles aderem à pele, quando saem, sangra, fica um buraco). Ela, muito boazinha, deixou tirar, mesmo sem me conhecer bem.

Soube que ela já tinha dado cria. Pedi pra castrá-la, arquei com os custos.

Até que a família iria se mudar do local, quando eu pedi ela pra mim, temia pelo futuro dela. E eles me deram. Eu tinha uns 20 cães na época, mas não poderia abandoná-la.

Ela ficou comigo. Passou a viver solta, comer bem, dei vermífugo. Ficou linda e saudável.

Ela ficou comigo, mas numa área rural, pois era acostumada por lá, uma outra pessoa cuidava dela para mim. Cuidava muito bem e ela estava feliz. Caçava com os "amigos" cães, vivia bem.

Até que essa pessoa, também, precisou se mudar, e ela ficaria sozinha. Então tive que trazê-la para perto de mim.

Ela veio, se adaptou bem com alguns de meus cães, pois vários ficam separados em "turmas" que se dão bem. Na época, uma de minhas cachorrinhas partiu (por velhice), então vagou esse lugar para ela naquele grupo, com 2 amiguinhos machos.

Ela acostumou fácil e se deu muitíssimo bem. Passou meses numa boa.

Porém ao lado tinha um outro grupinho de cães, no qual uma das fêmeas de lá, dominante e bem mandona e territorialista, não gostava dela. Não tolera fêmeas em geral, mas vivia latindo para ela no alambrado divisório. Tinha ciúmes também.

As coisas ficaram assim por uns bons meses. Até que, uma noite, a outra brava quebrou o alambrado (estava enferrujado e facilitou) e a atacou. Acredito que uma outra ajudou, pois o estrago foi grande.

Quando a encontrei, o chão estava ensopado de sangue. Vi muita briga de cão, mas com tanto sangue não. Uma cena terrível. Ela estava viva, mas muito machucada e não andava.

Entrei em desespero e achei que ela estava morrendo. Mesmo assim, a enrolei num lençol, coloquei no carro e levei ao veterinário em emergência (eram umas 2h da madrugada).

Ela nem se movia, foi muitíssimo difícil dirigir naquele estado emocional, mas não tinha opção: ou levava ou a o perderia.

Achei que tinha morrido algumas vezes durante o trajeto, pois estava caidona. O cheiro de sangue estava bem acentuado e o lençol ensopando inteiro de sangue vivo.

Cheguei ao vet em uns 10 minutos, já estavam me esperando. Retiramos do carro, levaram-na para emergência e eu desabei, tristeza, desespero, adrenalina e uma confusão de sentimentos.

Foram sendo tomadas as primeiras providências, muito sangue. Aguardei ela ser socorrida, estabilizar (um pouco, pois levaram dias para estabilizar mesmo, sangramento mais de 24h), saber que estava viva. Até que voltei pra casa. O acidente foi em 03/07/23.

Dali em diante, foram dias de cuidados intensivos. Muitos ferimentos. Muitas lesões. Ela é peludinha, tiveram que dar banho e raspar o pêlo para achar todos os ferimentos.

Muitas infecções nas patas e corpo, pescoço atingido (não ficava em pé), hipotermia (temperatura baixa pela grande perda de sangue, ficou em local aquecido uns dias), ossos expostos, músculos, tendões e ligamentos rompidos.


Ela só não morreu pois não perfurou órgãos.

Embora reagindo bem ao tratamento, foram uns dias de estado bem grave, correndo risco de vida. A cada 24h, eu agradecia por ela estar viva. E rezava muito.

Senti culpa. Por não ter evitado, por as duas serem minhas, a que causou tudo isso (que tinha somente um arranhão na cabeça, embora as duas regulem de porte). Foi um período difícil para mim, em vários senridos. Os gastos foram muito altos. E todo o psicológico e emocional envolvido.

Visitava-a quase todo dia. Ela muito boazinha sempre, mesmo nos primeiros dias que não aceitava comer. Tinha que forçar alimentação.

E assim foi por 1 mês. Em 31/07/23, ela pôde vir pra casa. Com muitas feridas abertas, necessitando curativos diários. E uma pata traseira imobilizada, que não apoiava no chão.

Cuidei dela com toda dedicação. Levava trocar a atadura a cada 2, 3 dias. Até que ela teve que ser internada de novo, por uma infecção óssea naquela pata imobilizada.

Foi tentado tratar, mas começou-se a cogitar amputação. Já havia sido cogitado sobre outra pata, pelas infecções, mas as outras estavam mais íntegras internamente, apesar de feridas bem abertas até então. Como aquela pata foi "moída", a infecção atingiu o osso.

Insisti muito para tentar de tudo para salvar a patinha dela, como as outras patas e a vida dela, mas, segundo o vet, a infecção poderia espalhar para o corpo e comprometeria a vida dela de novo, já que, naquele momento, ela estava bem, fora de risco de vida, já fazia pouco mais de 1 mês do acidente.

Eu fiquei mal. Bem mal mesmo. Com a situação, com a decisão a tomar, com a minha responsabilidade etc. Era uma cirurgia (de alto custo, a essa altura minha conta no vet era altíssima, eu deixei de utilizar valores para minha saúde para poder ir pagando), mas parecia não ter outra saída.

A cirurgia de amputação da pata traseira direita foi realizada em 21/08/23. Algumas horas após, eu já fui vê-la. Ela parecia bem, acordada, cara boa, mas me impressionou a grande cicatriz e vê-la sem a pata. Tentava me consolar pensando que tinha sido o melhor para ela.


Comecei a procurar prótese para a patinha. São caras, umas muitíssimo caras. Encontrei uma alma boa do @amor_entre_rodinhas, a quem agradeço de coração o acolhimento, que me sugeriu aguardar e ver a adaptação dela, que talvez nem seria necessário.

Passaram-se uns dias e ela teve alta. Na verdade, eu pedi que a liberassem, se possível, pois eu já estava sem condições de arcar com tantos custos, até por ter outros animais que precisam comer.

Devo ressaltar que todo o atendimento e tratamento médico-veterinário foi excelente, a quem agradeço!

Com o meu pedido, marcaram alta para dali uns 2 dias, apenas esperar vazar mais do líquido que saía do local. Estava bem roxo também, apesar de que ela estava de roupinha pós-cirúrgica e não dava pra ver a cicatriz.

Ela teve alta e veio pra casa, com medicação para um tempo ainda (atb + antiinflamatório + medicação forte para dor).

Ela chegou bem em 28/08/23, quase 2 meses após o ocorrido. Comendo, fazia xixi e cocô, apenas quietinha, deveria ter dor. Fiz uma caminha confortável e a deixei num local só pra ela.

Ela andava sozinha, como já estava andando quando mantinha a para erguida.

Passou cerca de 1 semana mais quietinha. Na outra semana, já pulou uma cerca (dessa vez, não havia "perigo" do outro lado). Naquele dia, eu senti um alívio por vê-la vivendo normalmente, fazendo tudo o quê fazia antes, sem que a falta da pata a limitasse, até pequenas artes. 

Hoje, faz quase 15 dias da cirurgia. O local está bem cicatrizado. Parou de vazar, os hematomas já sumiram. Ainda com pontos. A medicação acabou, exceto para dor.

Estávamos brincando e ela brincava de morder como um filhote, algo que não tinha visto fazer antes. Imaginei se ela teria tido uma juventude de filhote em que pôde brincar, pois parecia uma verdadeira filhotona feliz brincando de mordidinhas, com o olhar dócil, calmo, sereno, esperto como sempre foi.

Vim fazer o relato porque acalmou meu coração, após 2 meses difíceis, que me ensinaram muita coisa.

Acho que vale a pena dividir tudo, pois pode ser interessante a outras pessoas.

Ela está aqui pertinho de mim, rearranjei a logística para que ela não esteja no mesmo local da outra que a atacou (que tem uma forte história também e não é um mau animal pelos seus instintos).

Obrigada, Senhor, pela oportunidade de tê-la viva, bem e pelas lições aprendidas. Ainda estou pagando o vet, mas uma hora termina, dinheiro a gente trabalha e recebe novamente!

Algumas lições:

- mantenha a fé sempre, mesmo que pareça muito difícil;

- amar e fazer por amor vale a pena sempre;

- pessoas boas são colocadas no nosso caminho que nos ajudam a ver luz no fim do túnel;

- animais têm instintos e devem ser respeitados;

- cuidado ao adquirir mais animais, considere os riscos envolvidos, se oriente com quem entende;

- ajude abrigos e afins, são locais que acolhem muitos animais e convivem com essas brigas inevitavelmente, colabore como puder, indico o trabalho excelente do Edu !

- ADOTE um cão abandonado, de rua, de abrigos. São presentes em nossas vidas!

- ADOTE um ANIMAL DEFICIENTE. Já tive alguns, hoje, tenho 2, são preciosidades, fonte de puro amor e ensinamentos, dê essa chance a um animal deficiente (ou IDOSO);

- trabalhar internamente com culpa. Teria muitas coisas pra falar sobre, mas resumo dizendo que não resolve nada!

- animais não convivem com as limitações como nós, humanos, são outras perspectivas que aprendemos com eles.


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