quarta-feira, 13 de outubro de 2021

BULDOG - Buldog x anestesia: como perdi minha bull


Venho relatar, desde como tudo começou e até o final trágico da perda de minha querida bulldog inglês.
Algumas considerações iniciais. Não irei citar nomes de envolvidos, nem o dela (pois este é sagrado para mim). Escrevo este texto em doses homeopáticas, pois a carga emocional que a lembrança desses fatos é muito intensa e desgastaste para mim. Aos de opinião diversa a respeito de minhas condutas em relação a ela, respeito-as e peço que respeitem as minhas, por caridade moral, ou, ainda, reconheçam a incapacidade de mensurar a dor (e os valores das quais isto decorre) alheios.

Como tudo começou

Minha bull tinha uma vida saudável, era muitíssimo bem cuidada, principalmente considerando as particularidades de um bulldog inglês. Desde pequena, sempre prestei muita atenção na saúde dela, inclusive para poupá-la de eventuais problemas mais graves na velhice.
A primeira cirirgia a qual foi submetida foi aos 4 meses, devido um olho de cereja (ou cherry eye). Trata-se de uma espécie de entupimento da glândula lacrimal que forma uma bolinha externa no local do orífício lacrimal, externo. Hoje em dia, o mais indicado é o tratamento desse problema e reintroducão da parte exposta, dada a função de lubrifição do olho do animal.
Porém, na época que ela apresentou o problema e, de acordo com o protocolo do veterinário que a atendeu, foi feita a remoção cirúrgica por um clìnico geral.
Naturalmente, referido olho produzia um teor de umidade baixo e, por volta do ano de 2006, foi diagnosticado ceratoconjuntivite seca ou sìndrome do olho seco por um veterinàrio oftalmologista muito renomado. Em resumo, a lubrificação natural do olho (inclusive de ambos) era muito baixa, o que causava desconforto, coceira, muita secreção, às vezes processo inflamatório. Foi prescrita medicação que repusesse essa falta pelo resto da vida (remédio caríssimo, por sinal).
Passei a administrar o remédio. Havia épocas em que o olho estava mais comprometido (tempo seco), outras menos.

Os primeiros sintomas rumo ao diagnóstico

Com o passar do tempo, no olho operado apresentou pequenas alterações na camada mais superficial. Era como se houvesse "risquinhos", "riozinhos de mapa", com um certo relevo. A aparência era algo como uma gelatina em que uma faca havia sido passada bem levemente ou que havia fios de cabelo presos na superfície dessa gelatina.
Consultei o oftalmologista veterinário (outro), que passou algumas medicações, as quais foram ministradas. Aquele remédio inicial foi sempre mantido.
Entretanto a lesão ocular não estacionou.
Aos poucos, esse "emaranhado de fiozinhos" criou um epicentro circular esbranquiçado do tamanho da cabeça de um alfinete. Uma bolinha branca no meio do olho.
Voltei a consultar o oftalmologista. Procurei um que atendesse em domicílio, para poupá-la de locomoções desgastantes.
Foram receitados diversos remédios, todos ministrados adequadamente.
Não havia perfuração de córnea, apenas uma úlcera.
A partir daí, o quadro foi evoluindo.
A bolinha aumentou e vascularizou-se (várias micro veias vermelhas surgiram so redor dela).
O oftalmo acompanhou toda essa evolução.
Eu sempre me preocupava muito com essa situação, pois não me parecia algo inofensivo.
Cerca de um ano e meio transcorrido, essa lesão formava um tecido carnoso de alto relevo que encobria de 85 a 90% do olho, partindo do centro. Era uma formação bem avermelhada, embora a olho nu e a uma certa distância parecia uma catarata de cor rósea.
A essa altura, minha preocupação era altíssima. Temia que essa "carne" crescesse a ponto de atrapalhar o fechamento do olho.

Os exames e o dianóstico
Xxxx
Assim, em conversa com o oftalmo, questionei a necessidade de exames específicos para diagnosticar    o quadro e fazer um tratamento adequado.
O exame indicado, seria uma biópsia do material por histopatologico. Como ela contava com 9 anos e a biópsia exigiria anestesia, foi optado por um citológico com uma escovinha própria com colírio anestésico.
Foi feito o exame e o resultado foi carcinoma escamoso. (Laudo estopim da mudança da minha vida).
Para uma confirmação de tal resultado, necessária uma biópsia, a qual exige anestesia.
Havia uma possibilidade de Lupus (por exclusão, caso não fosse confirmado o carcinoma na biópsia).

A ampulheta

A partir daí, começou uma tua contra o tempo, as incertezas, o temor, as inquietudes, as dúvidas, o medo de perdê-la.
Removi montanhas na busca do melhor tratamento para ela.
Em pincípio, não faria a biópsia, pela anestesia.
Procurei pelo oftalmo que havia diagnosticado a ceratoconjuntivite seca anos antes (estava no exterior em pesquisa sobre oftalmologia veterinária, a distância, forneceu-me uma segunda opinião).
Conversei com o oftalmo do caso e o anterior também, troquei ideia com a clínica geral.
Diante de um diagnóstico de tumor, procurei uma médica oncologista de humanos, renomadíssima (amiga da minha família, que, inclusive, tratou, em 3 situações distintas, de câncer de minha avó - curada em todas!). Fui orientada a buscar quimio e radioterapia numa Universidade Pública (um pouco distante de onde moro).
Contatei o pessoal de tal Universidade, que não se interessou pelo caso, mesmo eu tendo informado que se tratava de um bull, que precisaria de um atendimento diferenciado (impossibilidade de locomoção no calor, por exemplo). Fracasso.
Também, o oftalmo me informou que quimio para casos de tumores oculares não é de eficácia relevante, e que o desgaste não valeria a pouca chance de resultadons bons.
Desespero aumentando. Desde o dia em que recebi o laudo do diagnóstico do citológico acabaram -se as noites de sono. Tensão. Medo.
Muitas e incansáveis conversas dm família para tentar buscar o melhor caminho para nossa preciosidade.
Minha mãe lembrou-se da existência da biópsia transcirúrgica (feita em humanos), à qual minha avó foi submetida. Trata-se de um procedimento laboratorial feito durante a cirurgia cujo resultado (provisório, mas seguro), é dado na hora para tomada de uma conduta ou outra.
Voltei a falar com a oncologista humana que me incentivou a fazer a biópsia transcirúrgica e a cirurgia em si. Ele me explicou sobre o desgaste do organismo quando submetido a anestesia e que uma só (biópsia + extração do tumor em si) era a mais indicada, mesmo.
Passamos a considerar a cirurgia com biópsia transcirurgica.
Os veterinários que estavam acompanhado o caso de perto desconheciam essa técnica na Medicina Veterinária.
Pensei em contratar patologistas humanos para tanto. Não foi necessário. Localizei um veterinário oncologista pesquisador de uma (outra) Universidade que me informou sobre a existência dessa especialidade técnica laboratorial (biópsia transcirúrgica por congelamento). Falei com a equipe que disse ser viável deslocar-se à cidade da cirurgia para o procedimento.
Escolhi um local que acreditei ter estrutura de U.T.I. Veterinária (ressucitação, oxigênio, entubação, ventilação mecânica, transfusão de sangue etc).
Nesse meio tempo, orientada por um anestesiologista veterinário, tratei de fazer exames pré-operatórios para me certificar se ela suportaria uma cirurgia/anestesia.
Todos os exames foram feitos em domicílio. Coleta de sangue para hemograma completo e funções renal e hepática, ultrassom, eletro e ecocardiograma e até raio-x, que, em princípio, fui informada que não havia esse tipo de exame feito em casa.
Neste caso, faço questão de citar um anjo de nome Neide que conheci. Neide é da ONG Rancho dos Gnomos e, como eu acompanho o trabalho deles há tempos, sabia que muitos dos animais selvagens de grande porte de lá (felinos principalmente) faziam todo tipo de exame no local. Consegui um radiologista que viesse em casa. Mas Neide foi um bálsamo naquele momento. Estava num grau de cansaço físico (sem dormir bem) e emocional que ter conversado com ela por telefone e recebido as boas energias e palavras de esperança naquele momento difícil foram restauradoras. Inclusive, Neide me indicou a Asseama.

Indicou, também, Florais de Bach, para fortalecer a saúde daquele olho. Falou a respeito dos bons resultados que os animais do Rancho dos Gnomos apresentam. Administrei Florais a ela.
Também recebemos ( eu e ela) Reiki à distância de Cleide.

A cirurgia.

Os exames demonstraram todos resultados satisfatórios. Ainda que não houvesse um diagnóstico seguro e definitivo de carcinoma, não havia metástase, tido estava limpinho e funcionando bem. Algumas discretas alterações eram decorrentes da idade, mas, segundo os veterinários envolvidos, inclusive anestesiologista, não eram impeditivas de um procedimento cirúrgico. Em resumo, pelo pré-operatório, ela foi liberada. Coração apertado.
Correr o risco da anestesia? Afinal ela estava muito bem de saúde (e os exames comprovaram isto!) Disposta, brincalhona, comia bem, saudável.
E aquele olho? Seria carcinoma? Fui informada que é infrequente metastizar esse tipo de tumor, mas não impossível, e, que, caso fosse e não ocorresse metástase, ela apenas ficaria cega daquele olho.
E se ocorresse metástase?
E se nem fosse carcinoma?
Muitas, muitas dúvidas povoaram a mente da família durante pouco mais de um mês (diagnóstico -cirurgia). Foi uma época de várias datas comemorativas, inclusive meu aniversário. E aquela agonia no peito. Será que ela estaria conosco comemorando no próximo ano?
Decidimos, inseguros e amedrontados, pela cirurgia.
Minha vida ficou como que suspensa até aquela data. Nenhuma decisão importante a tomar. Vida suspensa. Voltaria efetivamente à ativa depois que estivesse tudo bem e a ansiedade passasse.
Chegou a sexta-feira marcada. (Respirando fundo agora, tomando fôlego...).
Eu a chamei de manhã, ela estava ensonada, olhou para o alto, como quem não estava alerta ainda. Cara (mais) amassada. Falei "vamos passear". Ela levantou saltitante e entrou correndo feliz no carro. Eu chorei, doloridamente chorei.
Chegamos antes da equipe, demos entrada na apelada de internação.
Pouco menos de uma hora, entramos para dar início. Conversamos com os vets. Anestesiologista estava serena, confiante. Aplicou uma espécie de pré-anestésico nela que a deixou bem calma, molinha (ela estava ansiosa). Pegou-a no colo. Demos um beijo e abraço nela viva e consciente pela última vez. Duríssimo entregar algo que te é sagrado sem saber se será devolvido.
Foi dado início à cirurgia: oftalmologista veterinário, anestesiologista, clínico geral e dois patologistas.
Voltamos à sala de espera.
Pouco tempo depois, cerca de meia hora somente, veio um os patologistas dizendo que o diagnóstico havia se confirmado: carcinoma e que o olho seria removido (enucleado).
Em princípio, eu não queria a remoção do olho, mas, a essa altura, queria-a viva, cega e viva!
Nem nos atentamos a esse "pormenor", só queria saber se ela estava bem e reagindo bem a anestesia. Foi dito que sim, estava tudo bem. 5 minutos de quase-alívio temporário.
Mais menos de meia hora, acabou a cirurgia.
O próprio oftalmo veio nos relatar como foi, prescrever cuidados pós-cirúrgicos etc e foi embora.
Passou um tempinho, ela ainda estava voltando da anestesia, fomos chamou para vê-la. Ela já estava desentulhada, muito sonolenta. Olhinho costurado, reconheceu a gente, levantou a cabacinha e logo deitou. Meu coração não estava tranquilo. Só estaria quando ela estivesse em casa e fora de risco.
Mas, parecia que a pior parte havia passado.
Fomos almoçar. Antes de conseguir almoçar, recebi um telefonema: o quadro havia mudado. Ela apresentou algumas complicações e teve que ser entubada. Não me recordo dos nomes técnicos, apenas que um deles era hipertensão. Teve algo mais, mas não era um nome que eu conhecia e, no estado que fiquei, algumas cenas se apagaram da minha memória. Eu fiquei em estado de choque.
Apesar do medo constante de perdê-la com o qual convivi até então tornou-se, ali, real, presente, palpável, e a possibilidade concreta.
Daí em diante a saturação dela não melhorou mais (nível de oxigenação) e ela se foi no final daquela tarde.
Nós aguardávamos a noite em casa (não exatamente, eu tive um abalo emocional que se tronou físico e fui hospitalizada). Dali fomos buscar o corpinho dela.
E foi assim que ela voltou para caixa. Dentro de uma caixa, silente.
Chovia naquele fim de tarde.
Eu não tinha forças para andar, coloquei várias flores dentro da caixa, abracei enquanto estava quente e apaguei de exaustão.
Minha família enterrou-a debaixo de chuva.

***

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