terça-feira, 1 de agosto de 2023

BULLDOG INGLÊS - Pela proibição da reprodução

O artigo pode parecer radical (e é), mas é de uma lucidez singular também. E muito ousado, eu diria.
A raça bulldog inglês deveria ser extinta, ou seja, sua reprodução proibida.
O bulldog é um braquicéfalo (animal de focinho achatado, cuja estrutura acarreta dificuldades respiratórias e termorregulatôrias). Sua estrutura física e fisiológica traz problemas como dispneia (falta de ar), hipotermia (elevação, inclusive fatal, da temperatura corpórea), edema de glote (inchaço na garganta(impede respiração), estenose e colabamento de traqueia (tubo traqueal que é flexível se comprime e impede a passagem de ar). Dificuldade de reprodução: pela sua estrutura forte e compacta, o macho não realiza a monta com naturalidade (acasalamento), por isso é comum coleta de esperma e inseminação artificial; a fêmea, por ter o quadril (anca) reduzido em relação a parte anterior do corpo e os filhotes cabeças grandes, tem dificuldades para parir, o que implica em cesáreas na maioria dos casos (e todo risco de uma anestesia). São cães com dobras cutâneas (na pele), desenvolvem com facilidade dermatites.
Bem, essa foi uma contextualização simples e bem pouco técnica, mas proposital, para que seja compreendida por qualquer leigo que pretenda adquirir um exemplar.
Falo com propriedade e conhecimento de causa. Tive a felicidade de conviver com esses seres encantadores. Sim, possuem temperamento excepcional, meigos, carismáticos, doces. Nossa relação foi especialmente intensa e, justamente por esta razão, que me posiciono contra a reprodução desses animais. (Como se qualquer outro cão não o fosse, ilusão, todo cão é especial à sua maneira).
Entretanto, esse temperamento espetacular foi conseguido por meio de cruzas que resultaram numa raça anômala, problemática. São seres que vivem sofrendo. Que não têm uma vida natural como qualquer outro, desde as necessidades mais comuns (como respirar!!!) até as mais sofisticadas, como reproduzir.
Conviver com um bulldog é uma experiência mágica. Mas sofrida também. Ver o seu amigo com falta de ar e não poder fazer nada é, no mínimo, o cúmulo da impotência.
Muitos dirão que essas "anomalias" que citei são mais recorrentes de acasalamentos mal feitos, fora dos padrões etc. Até é possível que a cruza sem critérios agrave esses fatores. Mas já tive a triste oportunidade de ver cães de primeira linha, cujos pedigrees eram dos mais caros e respeitados, morrendo de calor. Bem como, li orientações (honestas) de criadores de topo de ranking sobre a impossibilidade de garantir muita (ou qualquer) coisa em termos da vida e saúde de um bulldog devido a sua saúde frágil, o que poderia o ser de modo relativamente seguro com outras raças.
Em outras palavras, o "defeito" de fábrica vem do antigo cruzamento que originou a raça e não dos mais recentes que, certamente, tem potencial para agravar esses problemas.
O fato é que são cães extremamente simpáticos e adoráveis, além de lindos, fofos, conquistam qualquer um! E a vaidade humana de ter um bibelô para admirar faz com que essas "dificuldades" todas sejam relevadas, como se fossem desimportantes. A posse de um cão que satisfaça o desejo do homem prevalece em detrimento da qualidade de vida decente e saúde desse ser vivo.
Veja bem, não estou pregando a eliminação de todos os bulldogs que existem! Pelo contrário, devem ser infinitamente protegidos e cuidados como merecem.
Mas o que faz continuar a por no mundo seres (tão puros, amorosos, afetuosos) para sofrerem?
Não seria egoísmo do homem?
Alguém dirá que a raça deve ser mantida alegando amor a ela. Ao contrário. É preciso amar muito um serzinho (e conviver, anos e anos com ele e ver quanto é sofrida sua jornada "natural" na terra) deste para entender que nós estando olhando para nosso umbigo ao querermos incentivar essa tipo de criação tão antinatural. É preciso sofrer junto com cada falta de ar, com cada cianose (não oxigenação de tecido), com calma ronco de edema de glote associado à angustia de perder nosso amigo para ter certeza que ele deve ser livre, na acepção mais ampla da palavra.
Não queira ver seu melhor amigo não conseguir respirar e não poder fazer nada por ele (e sim, isso é algo inerente à raça! Como podemos admitir?)
Recentemente, o Conselho Federal de Medicina Veterinária disciplinou a proibição de corte de orelhas e caudas de cães por motivos estéticos. Foi um avanço. Se não há razões para mutilar um cães em nome do que o homem considera belo ou padrão? Qual seria a justificativa plausível para manter uma raça que nasce, vive e morre sofrendo?
Minha proposta já nasce fadada ao fracasso, pois a raça é caríssima, uma das mais ou a mis, eu diria, e tudo que envolve recursos financeiros têm grandes resustência a discussões éticas, políticas, morais, sociais.

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